Para poder colher, é preciso plantar

As pessoas costumam me perguntar:

  • Qual papel eu uso
  • Qual o melhor pincel
  • Qual o melhor lápis de cor
  • Qual a tinta mais adequada…

E eu acho que escolher o melhor papel que você pode comprar é importante, sim, pois os materiais impactam no resultado. 

Porém, mais do que bons materiais, ou o Ipad de última geração, o que um ilustrador precisa é de TEMPO, PERSEVERANÇA e PACIÊNCIA.

Tempo para se aprimorar, aprender tudo que tem para aprender, e tempo para praticar.

Use  os materiais que tem no momento, e vá plantando as “sementes” até que virem mudinhas, que você pode dizer que são suas primeiras ilustrações. 

Quem sabe sejam pequenas, não muito elaboradas ainda, mas se você cuidar, uma hora elas vão florescer.

Perseverança para não desanimar quando não conseguir aquele cliente que apareceu, quando as editoras não responderem e quando as tentativas de concursos forem frustradas.

Vá “plantando” uma ilustração aqui, outra ali, um contato com cliente aqui, outro lá. 

Regue e adube o seu trabalho com mais conhecimento, cursos, dicas, aprimoramento.

Cuide das suas ilustrações, não deixe elas ficarem esquecidas: assim como as plantinhas, todos os dias dedique um tempinho ao seu trabalho de ilustração.

PACIÊNCIA

Por fim, é preciso paciência, pois depois que tiver plantado sementes por todo lugar, frequentemente, uma hora suas “plantas”, que são suas ilustrações, vão começar a dar frutos. 

E aí você vai poder colher os resultados.

Quando alguém começa uma horta, prepara o terreno, semeia, cuida, rega e aduba. Só vai ver os resultados meses depois.

E é assim no trabalho do ilustrador: comece com

  • as habilidades que tem
  • com o tempo que tem
  • com os materiais que tem

e no fim de alguns meses terá um portfólio completo.

Para poder colher, é preciso plantar.

E isso também acontece em nossa profissão.

Então, comece já, pois quanto antes começar, antes verá os resultados.:-)

Ilustrado final de semana!

Como foi ilustrar capas para livro didático

Essa semana recebi o livro didático – caderno de alfabetização – da Turma da Malu.

Esse livro já é tradicional na área de educação, mas as autoras queriam uma capa nova. Então, me pediram para fazer algo no meu estilo. E fiz uma live para comentar e mostrar meus esboços. Espero que curta!

Workshop de Pintura – Venha participar

No dia 9 de novembro, vou fazer um workshop online ao vivo, para você que deseja aprender a pintar comigo.

1. Nesse workshop, vou mostrar a pintura de uma ilustração, e você poderá me acompanhar ao vivo.

2. O workshop vai durar 3h, com um pequeno intervalo, das 8h às 11h.

3. Pegue suas tintas, pincéis e lápis de cor e venha ilustrar comigo.

4. Inscrições somente até dia 01/11, pois preciso saber o número de alunos para me programar e definir a plataforma onde o workshop será ministrado.

5. Esse workshop é para alunos e também não alunos.

6. No workshop, também vou explicar como um dos alunos poderá ganhar uma participação no próximo livro da Vivência do Ilustrador.

7. Inscrições: R$ 147, aqui NESSE LINK

8. Dúvidas? Entre em contato. Obrigada! 🌸🌸🌸

Livros ilustrados por meus alunos!

Essa semana mostrei um spoiler do novo livro com ilustrações dos meus alunos.

Os livros que mostro nessa live que fiz no Instagram são resultado do trabalho de meus alunos da Vivência do Ilustrador. Para participar, primeiro se inscreva no meu curso Método Ingrid (clique aqui) e depois entre em contato comigo para o upgrade, datas e condições da Vivência. Obrigada!

Clique AQUI para assistir. Ilustrada semana!

Os 5 Ps do Marketing em Ilustração

Muita gente acredita, e alguns até defendem, que o que basta para ser ilustrador é só desenhar bem.

Embora seja um fato de que ter habilidades artísticas, sejam tradicionais ou digitais, seja necessário para ser ilustrador, é um mito dizer que só isso basta. Tem gente que não concorda comigo, mas com anos de experiência na área, é o que tenho visto.

Alguns vão dizer que estou errada, mas eu explico:

Quem só desenha e fica em casa, sem procurar um propósito para sua arte, na minha opinião, usa a arte como passatempo.

Veja bem: se uma pessoa faz arte sem ter um objetivo, não é ilustração. Ilustração é a arte que tem como objetivo passar uma mensagem, um conceito, informar ou contar uma história. Arte que não faz isso, não é ilustração. Eu não vou falar de todas as áreas da ilustração, mas vou focar na minha área: ilustração de livros infantis.

1º fato sobre ilustração: tem que ter contar algo. Obviamente, tem que se fazer um bom trabalho também.

Vou exemplificar ainda com outra profissão: alguém que faz pão, e até posta no Instagram as fotos, é um padeiro profissional? Eu tinha uma vizinha que fazia pães lindos, super altos, fofinhos, mas ela não era profissional. Para isso, além de ter um pão gostoso e de qualidade, ela teria que ter quantidade para vender, mostrar sempre o seu trabalho, divulgar, saber precificar, saber onde encontrar os clientes…

Muita gente sabe dirigir, mas são todos motoristas profissionais? Eles tem que ser bons no que fazem, em primeiro lugar, mas também tem que ter os meios para conseguir clientes, cobrar, saber o seu valor no mercado, prestar um bom atendimento e se destacar entre os outros.

Aí alguém vai dizer: ah, mas um médico não precisa mais nada a não ser o seu conhecimento? Será? Bom, além dele ter que adquirir muito conhecimento, e também conhecimentos diversos para ser médico, tem que ter um ponto para atender (seja numa clínica, seja no seu consultório), tem que saber precificar suas consultas ou ter planos de saúde conveniados, tem que ter equipamentos, tem que saber atender o cliente, não só diagnosticar, tem que inspirar autoridade, isto é, mostrar que entende do assunto, tem que ter um website…

Acredito que em todas as áreas temos que saber ‘operar o equipamento’, em nosso caso, saber desenhar, saber composição, narrativa visual, etc… como também ‘navegar no oceano da área’, que é saber como conseguir clientes, contratos, direitos e deveres, habilidades comerciais e de negociação, entre outras.

Seria como dirigir: tem que saber dirigir o carro, mas também as regras de trânsito. Uma tem a ver só com a gente, que é o ilustrar, seja tradicional ou digital, e a outra tem a ver com relacionamentos.

Dito isso, a segunda coisa que temos que entender é:

2º fato: tem que desenhar bem, sim, mas também tem que aprender a navegar no mundo editorial. Saber onde encontrar os clientes, como precificar, quais são seus direitos e deveres como ilustrador, quais os direitos e deveres dos seus clientes, como ler um contrato, o que diz a lei de direitos autorais e quais suas brechas, como diversificar para ter renda recorrente…

Eu fiz marketing antes de estudar belas artes na Accademia di belle Arti di Venezia, na Itália.

E para você ter uma empresa, diz o Philip Kotler que você tem que ter 5Ps. Alguns dizem que são mais, mas a primeira teoria dele eram só esses 5.

P – Produto

P – Preço

P – Ponto

P – Promoção e publicidade

P – Pessoas

Vou aplicar em nossa área de ilustração:

Em primeiro lugar, o ilustrador tem que ter um bom PRODUTO, ou seja, um bom trabalho de ilustração, onde ele mostre todo o seu potencial, mostre que consegue produzir ilustrações variadas, com estilo, que tenham qualidade técnica, domínio do desenho e da narrativa visual.

Em segundo lugar, tem que saber o valor do seu trabalho – PREÇO. De nada adianta você conseguir tabelas de editoras que muitas vezes pagam muito abaixo do preço de mercado praticado, se esses valores não pagam seus custos e despesas, e você fica pagando para trabalhar.

Em terceiro lugar, é preciso ter um lugar – PONTO – onde as pessoas possam te encontrar, e em nosso caso, um website, sites de portfólios, redes sociais.

Porém, de nada adianta ter o lugar se ninguém sabe onde te encontrar. Por isso, em quarto lugar, é preciso PROMOVER o seu trabalho para que mais pessoas tenham conhecimento de que você existe.

Em quinto lugar, temos que envolver as PESSOAS em nosso trabalho. Em algumas empresas, as pessoas são os funcionários, fornecedores, parceiros e clientes. Em nosso caso, podemos considerar nossos clientes, mas não domente. Também as pessoas que não são nossos clientes diretos, mas são clientes de nossos clientes, os leitores e apreciadores de nosso trabalho.

E é por isso que o meu curso começa com noções básicas de desenho, mas não foca só nisso. Depois do primeiro módulo, que trata de desenho e materiais, no segundo eu passo a falar da narrativa visual, que é essencial para nossa profissão. De que adianta você saber desenhar bem, se não conhece as técnicas de visual storytelling?

No terceiro eu já passo para a gestão do livro ilustradro. É uma das perguntas que mais recebo por email ou mensagem: mas como eu faço um livro, como eu monto, como eu apresento para o cliente, como eu separo o texto, como fazer um livro que tenha ritmo, o que é rafe, o que é thumbnail, como eu falo com o cliente?

No quarto módulo, eu falo sobre os relacionamentos essenciais do ilustrador: embora pareça que o ilustrador trabalhe sozinho, isso não é sempre verdade. Sempre vamos ilustrar PARA ALGUÉM. Pode ser uma empresa ou uma editora? Sim, certamente, mas sempre vai ter uma pessoa que a representa. E vamos também conversar com nossos leitores, com crianças em oficinas, com leitores, fãs, editores e participantes de eventos, como feiras literárias, bienais, etc… Também falo como eu consigo clientes, de onde eles vem e como eles me encontram, orçamentos, etc…

No quinto módulo, eu mostro como eu diversifico, usando minhas ilustrações para outros fins, para que eu tenha renda de outros lugares que não seja somente de editoras. Isso porque é preciso trabalhar de modo a conseguir sempre trabalhos para o futuro, e ter uma renda extra que entra quando você está num mês sem trabalho é muito importante para o ilustrador freelancer.

No sexto módulo, eu falo sobre divulgação, pois é PROMOVENDO seu trabalho que você vai ficar mais conhecido e conseguir mais clientes.

Para finalizar, quero dizer que isso tudo que falei me pareceu difícil um dia. Mas não é preciso fazer tudo de uma vez. Eu estudei, pesquisei, experimentei opções para chegar onde estou. E você pode fazer o mesmo. Ou, se quiser abreviar o tempo e aprender tudo isso mais rápido, se inscrever no meu curso.

Clique AQUI para conhecer o curso e saber mais.

Preciso pesquisar para fazer uma ilustração?

Uma coisa que acho fascinante no mundo da ilustração é o fato de que ela carrega não somente uma imagem, mas também a ‘bagagem’ de quem ilustra. Tudo aquilo que você viveu, leu, aprendeu, experimentou, viu, apreciou, enfim, teve contato, faz parte da sua história e do que você foi, é e será. O que você desenha será grandemente afetado por todas essas experiências, sentimentos, sensações e conhecimento.

 *Na ilustração acima, pesquisei uma casa com varanda, como pedia o texto.

Ninguém sabe tudo, muito menos sobre tudo

Dizem que o especialista é alguém que sabe muito sobre muito pouco. Brincadeiras à parte, no que se refere a conhecimento e ilustração, quanto mais você se informar, maior será a possibilidade de criar algo realmente novo e interessante. Eu até me pergunto: como vamos imaginar algo se não obtivermos informações a respeito? Além disso, será que não corremos o risco de criar algo que já foi criado? E como saberemos se algo já foi criado se não pesquisarmos?

A pesquisa faz parte do trabalho do ilustrador. Para ilustrar, é muito importante que o ilustrador leia muito, informe-se, seja curioso…  A meu ver, não basta ler somente o texto que está sendo ilustrado, mas tudo o que esteja relacionado ao mesmo e o que mais for possível.

Vou dar alguns exemplos do que estou falando nas ilustrações que tenho realizado: uma vez me solicitaram uma ilustração para um texto que fazia referência ao livro ‘O sofá estampado’, de Lygia Bojunga. O texto falava do Tatu Vítor, mas não do sofá ou das cartas… Como eu poderia ilustrar um texto sobre o Tatu Vítor se não soubesse do que se tratava o livro ao qual se referia?  Será que não teria feito algo vazio, ou apenas teria repetido na imagem o que o texto narrava? O fato de eu ter conhecimento da obra que originou esse segundo texto possibilitou uma ilustração na qual inseri conteúdos que não tinham só a ver com o texto em questão, mas faziam referência à história original.

No livro O Jardim Diferente, do escritor Israel Belo, também por mim ilustrado, ele fala em ‘acácias, eucaliptos, ipês, oitis e urtigas’. Geralmente a ação do livro está relacionada aos personagens, mas neste trecho do livro ele estava falando do que havia no Jardim do Éden, então o foco estava mesmo nas árvores. Para desenhá-las, fiz uma pesquisa dos vários tipos citados e das cores. Eu nunca tinha visto um oiti até então (na verdade, nunca tinha ouvido nem falar em oitis). Cheguei até a trazer uma folhinha o oiti para casa. Foi interessante pesquisar sobre o assunto e desenhar tais árvores na mesma ilustração. Claro que desenhei no meu estilo, mas mesmo assim tive o cuidado de não somente desenhar árvores diferentes, mas que fossem ‘reconhecíveis’.

Em outro livro de Israel Belo, O Homem que Gostava de Enganar, procurei informações sobre a época em que as pessoas viviam, como eram as estampas das roupas das pessoas daquela região, o que comiam, etc. 

Hoje, com a internet, fica muito mais fácil pesquisar. Desenhar sobre assuntos aos quais não temos acesso é ainda mais complicado, portanto é necessário ainda mais pesquisa e leitura.

Por que estou falando sobre isso? Como eu já comentei em um post anterior, é estranho ver um coco numa bananeira. Isso aconteceu porque provavelmente a pessoa que realizou essa ilustração nunca viu uma bananeira ou um coqueiro e provavelmente não sabe diferenciá-los (confesso que eu mesma acho os dois parecidos). Como era um livro traduzido para o português, utilizando as imagens originais, provavelmente o ilustrador não era brasileiro (e nem tinha o nome de quem ilustrou no livro!).

Para ilustrar a Formigarra/Cigamiga, consultei o livro Synthomas de Poesia na Infância, também da autora Gloria Kirinus. Neste livro há um capítulo que explica com mais detalhes do que se trata a Formigarra/Cigamiga e isso permitiu que eu pudesse ter mais liberdade e segurança para criar as ilustrações do livro.

Com tudo isso, estaria eu dizendo que não podemos ousar nas ilustrações? De modo algum. Eu gosto muuuuito quando vejo uma ilustração em que o ilustrador ‘saiu do quadrado’ e percebo que as crianças também curtem muito. Particularmente, costumam ser as minhas preferidas!

 

Um exemplo do fato de não seguir o real no meu trabalho é a personagem Formigarra. Os leitores vão perceber que a Formigarra é uma formiga que tem 4 patas, só que dentro do livro há formigas de 6 patas. Por que fiz isso? Porque queria ‘humanizar’ a formiga. Mas as outras formigas que eram ‘figurantes’ no livro, essas eu fiz com 6 patas.

Muitas vezes temos um bom traço, desenhamos bem, a nossa técnica é perfeita. Porém, se a ideia que temos para a ilustração não transmite a mensagem, nossa ilustração acaba deixando a desejar. Por isso, sempre recomendo pensar no que estamos ‘dizendo’ com a nossa ilustração. E a pesquisa vai ajudar você a enriquecer o seu trabalho, pois uma mensagem, ainda que visual, precisa de informações. E uma pesquisa nada mais é que uma coleta de informações.

É claro que é muito mais fácil a gente desenhar o que já tem em nossas mentes, mas observar fotos, as posições, a perspectiva, os cenários, personagens, vai deixar nossa ilustração muito mais interessante. E sabe o que isso quer dizer? Diferencial!

Diferenciar você dos outros ilustradores do mercado vai trazer destaque ao seu trabalho, e se nos destacamos, temos mais clientes. E se temos mais clientes, podemos viver da nossa arte. E não tem coisa melhor profissionalmente do que ganhar seu sustento fazendo o que se gosta, não é verdade?

Um ilustrado final de semana!

“Por que eu não consigo clientes de ilustração?”

Às vezes eu recebo e-mails ou mensagens no direct do Instagram que me perguntam: onde achar clientes, como achar clientes, como entrar no mercado de trabalho…

E alguns outros ilustradores até me enviam suas ilustrações, links dos seus portfólios.

Embora alguns não estejam ainda a nível profissional, há alguns que eu fico encantada.

São maravilhosos. Mas, mesmo assim, o ilustrador me pergunta: se é assim, então por que eu não consigo trabalho?

Então, eu percorri uma trajetória que, vejo hoje, foi feita de várias etapas e até dividi meu curso falando sobre o meu método. Pois eu tenho uma teoria que, se for pensar em mim mesma, funcionou e tem funcionado para vários de meus alunos.

Vai funcionar para todo mundo? Não posso dizer nem que sim, nem que não. Mas vou falar aqui sobre alguns questionamentos que você deve fazer para refletir sobre a causa de você ainda não ter conseguido clientes como ilustrador ou ilustradora. Eu vou falar especialmente da área de ilustração de livros infantis, porque é a área em que eu atuo.

Obviamente, cada um vem de um tipo de trajetória. Eu chamaria até de ‘background’.

O que eu quero dizer com isso?

Que tem gente que mora em cidade pequena e tem gente que mora em cidade grande.

Que alguns tinham ou tem recursos para materiais e softwares e outros não tem.

Que alguns tem como adquirir conhecimento e outros não.

Mas eu quero dizer que, se eu, que vim de uma família muito humilde, estudei em escola pública, só consegui finalizar meu curso de artes na terceira vez que comecei o curso. Isso porque eu passei em 3 vestibulares de arte, comecei os curos, mas por circunstâncias da vida, só consegui mesmo dar continuidade na terceira vez, consegui, então você também pode.

Eu não tinha material, não tinha dinheiro, não tinha noções de desenho até a vida adulta, não tinha livros para aprender… e vinha de origens humildes.

Se eu consegui, tenho certeza que, não importa onde você nasceu e mora, e não importa a idade, você também pode.

Mas voltando ao tema: por que eu não consigo clientes?

Vamos a alguns considerações

  •  Você tem ilustrações suficientes para apresentar um portfólio?

Eu pergunto isso porque, às vezes, quando alguém me escreve, nem começou. E outros, apesar de terem um trabalho bonito, tem de 3 a 5 ilustrações.

Em outros casos, me enviam fotos de ilustrações feitas em papéis até rasgados, ou amassados. Ou então, ilustrações feitas com caneta sem técnica, todas juntas, como se fossem um sketchbook.

Dito isto, afirmo: a aparência de um portfólio é importante.

Você entra num café só para tomar café ou olha a aparência, a limpeza, se a decoração lhe agrada, se o cardápio está limpinho, não amassado e não rasurado?

Apresentação é importante. Quantidade também é importante. Não basta ter um ‘corpo de trabalho’, como vou chamar aqui, com poucas ilustrações. Tem que mostrar uma certa quantidade mínima.

Algo que eu sempre digo: nem todas as pessoas conseguem visualizar imagens em suas mentes. Nem todos são pessoas visuais. Alguns são mais de ouvir, outros de ler, e outras são sinestésicos. O seu cliente pode estar pensando numa ilustração, mas não consegue conceber como será. Então, se você tem muita variedade, isso vai ajudar ele a unir ideias de suas imagens e a conceber o que está pensando.

E pode ser que ele esteja buscando um ponto de vista diferente, e se ele não encontra no seu portfólio, pode passar para um outro artista, pois como não sabe dizer exatamente o que quer, vai buscar uma cena similar para mostrar ao ilustrador e dizer: é mais ou menos isso que eu quero. Por isso, quanto mais possibilidades você apresenta em seu portfólio, melhor.

Outra coisa: você tem um website ou só usa o Instagram? E o Instagram, está focado em ilustração ou tem fotos de família, aniversários, você tomando algo na beira da praia?

Embora o Instagram não seja o seu portfólio, ainda assim tem que ter um foco em ilustração.

  • Mais uma pergunta: seu Instagram é público?

Quantas vezes as pessoas me mandam o link do Instagram para eu ver o trabalho delas e é privado. Eu tenho que solicitar acesso.

Você acha que um cliente vai entrar no seu instagram e pedir acesso para poder ver o que tem feito? Dificilmente. Parece obvio o que estou falando, mas acredite: acontece direto.

Muita gente me diz: ah, ainda não deu tempo de produzir muita coisa, pois estou muito ocupado ou ocupada com outro trabalho, com filhos, estudo, etc…

Então, vamos por partes: ocupe seus primeiros meses só fazendo ilustração. Produza, produza, produza.

Aí, depois que tiver o que eu chamo de ‘produto’, aí você pode começar a pensar em clientes. Não é através de clientes que você vai começar a produzir e ter um portfólio, mas ao contrário: é produzindo que você vai ter clientes.

Compare com uma padaria: não é o cliente que chega e lhe encomenda um pão. Você produz um pão e depois o cliente vem, vê e compra.

Em nossa área, é mais ou menos assim: só que você vai produzir, ele vai olhar e aí sim vai lhe pedir algo similar, mas para atender as necessidades dele. É como apresentar amostras e dizer: eu tenho esses exemplos, mas posso fazer algo personalizado para você.

Além disso, além da quantidade, é importante que o portfólio mostre ilustrações variadas, mas que de alguma forma se conectem. O que quero dizer é: não faça somente um tipo de personagem, mas varie. Porém, varie os personagens, os cenários, os elementos, mas mantenha uma consistência de estilo, por exemplo.

Uma outra coisa que você tem que pensar é:

  • Meu trabalho é bom o suficiente?

Eu entendo: tem livros que as ilustrações não nos agradam. Mas, a gente achando legais ou não, o que importa é que esse ilustrador conseguiu um cliente. Talvez ele não tenha a qualidade que você admira, e cada um tem um gosto, mas o fato é que ele deve ser bom o suficiente para quem o contratou.

Mas voltando à qualidade profissional de suas ilustrações, eu pergunto: – o seu trabalho é refinado?

O que eu quero dizer com isso: tem linhas sobrando, marcas de lápis, manchas, papel amassado, etc…

Eu recebo ilustrações de várias pessoas, e não estou falando de alunos, que me enviam desenhos em papel quadriculado! Me desculpe: não é preciso um papel caro, de qualidade superior, mas que pelo menos não tenha linhas nem sejam folhas de cadernos escolares. O papel quadriculado até pode ser usado em ilustrações, mas feito de modo intencional, geralmente como um elemento da própria ilustração. Esse é o mínimo.

Quanto ao acabamento: as linhas feitas com lápis de cor, por exemplo, estão bem acabadas, fechadas, ou riscadas aleatoriamente, como se fosse um desenho de criança?

É claro que existem estilos, mas notamos quando o ilustrador faz aquilo propositalmente. A tinta, está cobrindo bem ou tem falhas? A técnica, está em feita ou parece que foi feita com pressa?

Para ter certeza de que seu trabalho está a nível profissional, vá a uma livraria ou biblioteca e escolha livros com um tipo de ilustração que você goste.

Então compare seu trabalho, principalmente o acabamento, com o do ilustrador profissional. Note a finalização do trabalho, como ele usa as cores, se usa ou não contornos…

Não estou falando aqui para copiar, mas usar como parâmetro algo que já foi publicado. O que já foi publicado passou por alguma avaliação e foi aprovado. Seja pelo desenho, pela técnica, pela composição, pela narrativa visual, pelo estilo… Enfim, por critérios que algum editor ou editora considerou importantes.

 Consistência

Em primeiro lugar, consistência de estilo. Isso porque o estilo nada mais é a consistência de similaridades que existem em todas as ilustrações que você faz.

Se elas parecem ser feitas por pessoas diferentes, isso pode deixar o cliente inseguro, pois ele não sabe se você vai entregar a ilustração dele no estilo da primeira, da segunda, da terceira ou da quarta ilustração. Assim, ela acaba indo procurar algum outro ilustrador, pois ele quer investir em quem vai lhe entregar algo parecido com o que viu no portfólio.

Se você já é meu aluno, vou te lembrar que no meu curso, Método Ingrid, eu tenho algumas aulas sobre estilo.

Existem ilustradores que fazem vários estilos, mas em geral, quem faz isso já tem um portfólio com várias seções, mostrando os 2 ou mais estilos com os quais trabalha. No entanto, a maioria dos ilustradores foca num só estilo para não confundir o cliente.

Além disso, também é importante considerar não só a consistência no estilo, mas também de qualidade.

Eu já vi ilustrações maravilhosas de artistas que, num trabalho seguinte, deixaram a desejar no quesito desenho, ou composição, ou acabamento, e até mesmo na narrativa.

É como música: às vezes o compositor acerta uma e faz sucesso. Mas depois não consegue mais compor algo similar.

Em ilustração, isso também pode acontecer: o ilustrador faz um trabalho lindo, mas as demais ilustrações não tem a mesma qualidade. Parece que estão inacabadas, ou que não houve o mesmo cuidado.

Eu sei: às vezes dá um cansaço fazer 30 vezes o mesmo cabelo. Mas temos que cuidar para que fique com qualidade similar, e naõ uma ilustração maravilhosamente finalizada e outra com cara de rafe ou esboço.

Para conseguir isso, é preciso um pouco de tempo. E eu até sugiro reservar uns meses para você afinar suas habilidades, e tentar se desenvolver cada vez mais. Em algumas técnicas, demora mais para finalizar uma ilustração. Considere o seu tipo de personalidade e veja qual se adapta mais ao seu estilo.

Com tudo isso, não quero dizer que deva desistir de ser ilustrador. Não é porque você ainda não tem um estilo que você não vai conseguir trabalhar com o que gosta. Mas talvez demore um pouco mais de tempo para você entrar no mercado de trabalho.

Obviamente, não existe uma trajetória única. Cada ilustrador tem a sua, mas algumas são mais rápidas para chegar ao objetivo do que outras.

  • Às vezes, é bom pedir para alguém de fora dar uma olhada no seu portfolio.

Isso porque nem sempre o que vemos e entendemos é o que os outros entendem. Eu peço para minha filha e meu marido darem uma olhada no que faço de vez em quando. E noto que há coisas que chamam mais a atenção deles e tem coisas que eu faço que eles entendem diferente. E isso me faz perceber que cada um vê uma imagem de acordo com o que vive ou viveu. E isso é normal, faz parte da vida.

Mas outra pessoa ver, e até comentar, faz a gente refletir sobre o que está criando. E aos poucos, vai começando a desenhar e ilustrar já pensando na mensagem que vai passar. E é por isso que eu comento as ilustrações de alunos da Vivência do Ilustrador. Porque aquilo que nos parece óbvio, nem sempre é para outras pessoas.

  • Onde as pessoas vão encontrar suas ilustrações?

Você está divulgando? Onde está divulgando?

Alguns ilustradores colocam em sites de portfólio como o Behance, por exemplo. Um dos problemas desses sites gratuitos é que podemos colocar um número limitado de ilustrações, e os que pagam acabam recebendo mais visitas.

Isso acontece por alguns motivos: em primeiro lugar, a plataforma irá mostrar quem paga ou quem tem portfólio gratuito?

Em segundo lugar, há uma imensidão de ilustradores do mundo todo e a possibilidade de sermos encontrados acaba sendo menor.

Em terceiro lugar, não podemos colocar muitas ilustrações, e isso faz com que o nosso portfólio não pareça tão atraente à primeira vista.

Então, algumas perguntas: seu objetivo é atrair clientes dentro ou fora do Brasil? Onde o editor irá procurar um ilustrador: no Behance ou na internet? O Instagram ou no Google?

A maioria dos meus clientes vem das seguintes fontes:

Google – eles acham o meu website Instagram – Eles viram alguma postagem minha e entram em contato

Referências – Eles viram algum livro ou alguém me indicou

Então, na minha opinião, mais vale ter um website do que focar em sites de portfólios.

Agora eu pergunto: onde você tem divulgado as suas ilustrações?

Obviamente, há exceções e alguém pode dizer: o ilustrador Siclano não faz nada disso, e nem tem website. De fato, sempre há exceções, mas talvez eles já tenham uma lista de clientes e não vejam necessidade nem de divulgar. Ou tem um contrato e não precisam de mais clientes. Ou talvez eles tenham um agente, que é mais comum no exterior que no Brasil e deleguem essa parte para eles, pagando um comissão.

Só que esse texto não é para quem já tem clientes, não importa se faz ou não o que estou dizendo. É para quem deseja aumentar as chances de ter clientes.

Por isso, supondo que fazendo somente uma das coisas aqui, já consiga clientes, isso não quer dizer que não vai conseguir mais ainda caso faça todas.

  • Constância

Eu confesso: eu não consigo manter a constância de postagem que eu gostaria. Eu produzo muuuuuuito mais ilustrações do que eu divulgo.

O Instagram é um lugar onde eu posto algum trabalho ou vídeo de making of periodicamente, mas eu gostaria de fazer mais.

No entanto, eu recebo em média de 5 a 10 pedidos de orçamento por mês. Obviamente, como eu trabalho em um livro por várias semanas, e também dou aula, eu limito o número de trabalhos que eu pego.

No entanto, o fato é que, mesmo eu tendo um Instagram que não divulga tudo que faço, quando isso é complementado pelo meu website, as pessoas veem que tenho ilustrações suficientes para mostrar que sou profissional.

Meu instagram não é perfeito, longe disso. Eu mesma reconheço  minhas limitações. Mas mesmo assim é o suficiente para que muita gente me peça orçamentos para ilustrar seus livros.

  • Apresentação do trabalho

Como eu já falei antes, às vezes eu recebo fotos de ilustrações feitas em papéis rasgados ou amassados.

Mas não é só isso: Você usa fotos bem feitas e digitaliza profissionalmente seu trabalho? Porque para enviar para um cliente, fotos, principalmente do celular, não serão algo que poderá ser usado em impressões gráficas.

O cliente tem que perceber, de imediato, se você sabe a qualidade de imagem necessária para uma publicação.

Fotos escuras, mal tiradas, ou trabalhos com resolução baixa podem dar a sensação de hobby e não realmente ilustração profissional. Até a qualidade dos materiais utilizados vai demonstrar, para um cliente, se o trabalho é profissional. Não precisa ser altíssima resolução, porque isso vai fazer com que o site fique pesado e o Instagram nem aceite, mas que tenha qualidade suficiente para ver os pormenores e detalhes da sua ilustração.

Quem trabalha nessa área, costuma ter um bom olho para isso, para ver se a ilustração tem a qualidade necessária para ser publicada. Vendo o seu portfólio, eles vão entender se você sabe como apresentar e enviar o seu trabalho para o cliente. E eles não querem alguém que precise ensinar o trabalho, mas alguém que já saiba fazer isso. E foi até por isso que criei a Vivência do Ilustrador, porque assim os alunos aprendem o processo e também a enviar a ilustração no formato correto. A maioria, até fazer o meu curso, acreditava que o formato era outro.

  • Contato

Algo que parece óbvio, mas os clientes tem como entrar em contato com você? Você tem uma forma deles entrarem em contato, seja no seu site ou no seu instagram? Às vezes, há pessoas que, além de deixarem o instagram como única forma de publicação, não deixam público e visível para todos, e em alguns casos, não possibilitam que qualquer pessoa possa contactar eles. Então, se alguém gostar do seu trabalho, é fácil deles falarem com você?

  • Temática

Embora pareça meio óbvio, já aconteceu de eu receber um email me perguntando por que esse artista não conseguia clientes, pois queria muito trabalhar com ilustração de livros infantis.

Ele mandou o seu instagram e fui olhar. Quando entrei no perfil, só tinha ilustrações em preto e branco, e de duas temáticas: caveiras e mulheres nuas.

Veja: se você quer trabalhar com ilustração de livros infantis, que tipo de ilustração deve fazer e divulgar?

O tipo de ilustração que tem nos livros infantis. Por isso, visite livrarias e bibliotecas e faça uma análise do que tem no mercado para saber se o seu estilo se enquadra em nossa área.

Outra coisa é se você até faz ilustração de livros infantis, mas só faz personagens fofinhos ou passarinhos. Embora seja algo que tem a ver com a nossa temática, como nosso mercado editorial não é grande como nos Eua, e até menor que o da Argentina (segundo relatórios editorias que recebo), não sei se conseguirá uma grande demanda para esse tipo de ilustração.

Pode até ter livros de passarinhos, mas não o suficiente para você viver só desse tipo de ilustração. Obviamente, se surgirem livros com a temática que você faz, e você conseguir clientes, fantástico. Não é porque são poucas as possibilidades que quer dizer que você não vai conseguir. Pode ser que surja uma série de livros que vai manter você ocupado ou ocupada por meses, e que poderá ser uma temática onde vão lhe procurar especificamente para isso. Então, aproveite!

  • Mostrar o processo, e o amor/paixão ao seu trabalho

Embora seja muito gostoso, Ilustrar não é passatempo. Desenhar, sim, é passatempo.

Você pode desenhar e isso vai lhe bastar, pois é algo que você faz para você mesmo. Mas ilustrar é fazer uma imagem para transmitir alguma mensagem, conceito ou história. E é importante encarar esse trabalho como algo que você não vai fazer só de vez em quando.

Tem que ter um espaço onde trabalhar, um horário para isso, e gostar do que faz. Porque eu também noto que, às vezes, algumas pessoas acham que ilustrar é só desenhar. Que desenhar bem basta.

Sinto dizer, mas conheço muita gente que desenha super bem e não consegue ter um fluxo constante de trabalho. Eu sei que alguns vão escrever que isso não é verdade, pois já recebi mensagens me contando que não conseguem clientes, apesar de terem um bom trabalho.

Mas infelizmente, não é só isso. Você pode até saber dirigir um carro: ligar, engatar a marcha, pisar no acelerador, como eu sempre digo, mas também tem que saber as regras de trânsito. Não é verdade que, mesmo sabendo dirigir, se você for para a Inglaterra, onde até o sentido das ruas é diferente, vai ser mais complicado se movimentar de carro lá?

Então, na área de ilustração é a mesma coisa. Desenhar é uma parte importante, mas há regras tanto na forma como se desenha, como se faz uma ilustração, e em como navegar no mercado editorial. Não é só o lado artístico que é  importante, mas o técnico e o comercial também são.

Eu conheço pessoas que dizem: eu só quero desenhar por prazer, para relaxar, não quero fazer isso profissionalmente. Então, não há nada de errado em fazer arte por puro hobby. Mas para fazer profissionalmente, às vezes é cansativo ter 32 ilustrações para entregar em 30 dias. E pode ser desafiador pensar em várias cenas para uma mesma história.

Então, para ter mais clientes, temos que produzir variados personagens, variadas sequencias, variados cenários, ou o mesmo cenário sob pontos de vista diferentes. E por isso, antes de ter clientes, temos que ter disciplina suficiente para construir um portfólio, variado, sem esperar receber nada em troca.

Vamos ter que trabalhar algum tempo antes de começar a procurar e atrair os clientes. E se você não gostar desse tipo de rotina, pode ser que não consiga atrair clientes, pois veem que não tem uma regularidade e você demonstra que suas artes são mais um passatempo do que uma profissão.

Essa vontade, ou não, de ilustrar e curtir esse trabalho, na minha opinião, fica evidente na forma como você mostra o seu trabalho na internet.

  • Mas eu não sei o que desenhar para colocar no meu portfólio

Eu já recebi várias mensagens me dizendo isso.

O que eu devo colocar no meu portfólio? Mas o que eu posso desenhar? Eu  não sei exatamente o que desenhar…

Então, por isso, eu criei um desafio gratuito de ilustração, que dura 30 dias, onde eu dou dicas e sugestões do que desenhar para você treinar, criar o hábito diário de ilustrar e se desafiar, pois não é fácil adquirir o hábito de desenhar todos os dias.

E no fim, você pode usar essas ilustrações como pontapé inicial para desenvolver o seu portfólio.

Então, cadastre-se no desafio gratuito de ilustração, no link abaixo do vídeo. Não custa nada e você vai receber, todo dia, uma mensagem com sugestões do que desenhar naquele dia. Não esqueça de me marcar no Instagram.

Espero que esse texto tenha te ajudado e peço que me dê um feedback nos comentários abaixo. Deixe também suas dúvidas.

Obrigada e uma ilustrada semana!  

Ingrid

DESAFIO DE ILUSTRAÇÃO