Os 5 Ps do Marketing em Ilustração

Muita gente acredita, e alguns até defendem, que o que basta para ser ilustrador é só desenhar bem.

Embora seja um fato de que ter habilidades artísticas, sejam tradicionais ou digitais, seja necessário para ser ilustrador, é um mito dizer que só isso basta. Tem gente que não concorda comigo, mas com anos de experiência na área, é o que tenho visto.

Alguns vão dizer que estou errada, mas eu explico:

Quem só desenha e fica em casa, sem procurar um propósito para sua arte, na minha opinião, usa a arte como passatempo.

Veja bem: se uma pessoa faz arte sem ter um objetivo, não é ilustração. Ilustração é a arte que tem como objetivo passar uma mensagem, um conceito, informar ou contar uma história. Arte que não faz isso, não é ilustração. Eu não vou falar de todas as áreas da ilustração, mas vou focar na minha área: ilustração de livros infantis.

1º fato sobre ilustração: tem que ter contar algo. Obviamente, tem que se fazer um bom trabalho também.

Vou exemplificar ainda com outra profissão: alguém que faz pão, e até posta no Instagram as fotos, é um padeiro profissional? Eu tinha uma vizinha que fazia pães lindos, super altos, fofinhos, mas ela não era profissional. Para isso, além de ter um pão gostoso e de qualidade, ela teria que ter quantidade para vender, mostrar sempre o seu trabalho, divulgar, saber precificar, saber onde encontrar os clientes…

Muita gente sabe dirigir, mas são todos motoristas profissionais? Eles tem que ser bons no que fazem, em primeiro lugar, mas também tem que ter os meios para conseguir clientes, cobrar, saber o seu valor no mercado, prestar um bom atendimento e se destacar entre os outros.

Aí alguém vai dizer: ah, mas um médico não precisa mais nada a não ser o seu conhecimento? Será? Bom, além dele ter que adquirir muito conhecimento, e também conhecimentos diversos para ser médico, tem que ter um ponto para atender (seja numa clínica, seja no seu consultório), tem que saber precificar suas consultas ou ter planos de saúde conveniados, tem que ter equipamentos, tem que saber atender o cliente, não só diagnosticar, tem que inspirar autoridade, isto é, mostrar que entende do assunto, tem que ter um website…

Acredito que em todas as áreas temos que saber ‘operar o equipamento’, em nosso caso, saber desenhar, saber composição, narrativa visual, etc… como também ‘navegar no oceano da área’, que é saber como conseguir clientes, contratos, direitos e deveres, habilidades comerciais e de negociação, entre outras.

Seria como dirigir: tem que saber dirigir o carro, mas também as regras de trânsito. Uma tem a ver só com a gente, que é o ilustrar, seja tradicional ou digital, e a outra tem a ver com relacionamentos.

Dito isso, a segunda coisa que temos que entender é:

2º fato: tem que desenhar bem, sim, mas também tem que aprender a navegar no mundo editorial. Saber onde encontrar os clientes, como precificar, quais são seus direitos e deveres como ilustrador, quais os direitos e deveres dos seus clientes, como ler um contrato, o que diz a lei de direitos autorais e quais suas brechas, como diversificar para ter renda recorrente…

Eu fiz marketing antes de estudar belas artes na Accademia di belle Arti di Venezia, na Itália.

E para você ter uma empresa, diz o Philip Kotler que você tem que ter 5Ps. Alguns dizem que são mais, mas a primeira teoria dele eram só esses 5.

P – Produto

P – Preço

P – Ponto

P – Promoção e publicidade

P – Pessoas

Vou aplicar em nossa área de ilustração:

Em primeiro lugar, o ilustrador tem que ter um bom PRODUTO, ou seja, um bom trabalho de ilustração, onde ele mostre todo o seu potencial, mostre que consegue produzir ilustrações variadas, com estilo, que tenham qualidade técnica, domínio do desenho e da narrativa visual.

Em segundo lugar, tem que saber o valor do seu trabalho – PREÇO. De nada adianta você conseguir tabelas de editoras que muitas vezes pagam muito abaixo do preço de mercado praticado, se esses valores não pagam seus custos e despesas, e você fica pagando para trabalhar.

Em terceiro lugar, é preciso ter um lugar – PONTO – onde as pessoas possam te encontrar, e em nosso caso, um website, sites de portfólios, redes sociais.

Porém, de nada adianta ter o lugar se ninguém sabe onde te encontrar. Por isso, em quarto lugar, é preciso PROMOVER o seu trabalho para que mais pessoas tenham conhecimento de que você existe.

Em quinto lugar, temos que envolver as PESSOAS em nosso trabalho. Em algumas empresas, as pessoas são os funcionários, fornecedores, parceiros e clientes. Em nosso caso, podemos considerar nossos clientes, mas não domente. Também as pessoas que não são nossos clientes diretos, mas são clientes de nossos clientes, os leitores e apreciadores de nosso trabalho.

E é por isso que o meu curso começa com noções básicas de desenho, mas não foca só nisso. Depois do primeiro módulo, que trata de desenho e materiais, no segundo eu passo a falar da narrativa visual, que é essencial para nossa profissão. De que adianta você saber desenhar bem, se não conhece as técnicas de visual storytelling?

No terceiro eu já passo para a gestão do livro ilustradro. É uma das perguntas que mais recebo por email ou mensagem: mas como eu faço um livro, como eu monto, como eu apresento para o cliente, como eu separo o texto, como fazer um livro que tenha ritmo, o que é rafe, o que é thumbnail, como eu falo com o cliente?

No quarto módulo, eu falo sobre os relacionamentos essenciais do ilustrador: embora pareça que o ilustrador trabalhe sozinho, isso não é sempre verdade. Sempre vamos ilustrar PARA ALGUÉM. Pode ser uma empresa ou uma editora? Sim, certamente, mas sempre vai ter uma pessoa que a representa. E vamos também conversar com nossos leitores, com crianças em oficinas, com leitores, fãs, editores e participantes de eventos, como feiras literárias, bienais, etc… Também falo como eu consigo clientes, de onde eles vem e como eles me encontram, orçamentos, etc…

No quinto módulo, eu mostro como eu diversifico, usando minhas ilustrações para outros fins, para que eu tenha renda de outros lugares que não seja somente de editoras. Isso porque é preciso trabalhar de modo a conseguir sempre trabalhos para o futuro, e ter uma renda extra que entra quando você está num mês sem trabalho é muito importante para o ilustrador freelancer.

No sexto módulo, eu falo sobre divulgação, pois é PROMOVENDO seu trabalho que você vai ficar mais conhecido e conseguir mais clientes.

Para finalizar, quero dizer que isso tudo que falei me pareceu difícil um dia. Mas não é preciso fazer tudo de uma vez. Eu estudei, pesquisei, experimentei opções para chegar onde estou. E você pode fazer o mesmo. Ou, se quiser abreviar o tempo e aprender tudo isso mais rápido, se inscrever no meu curso.

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Planejando sua carreira como Ilustrador

Quando alguém deseja realizar um objetivo ou sonho, geralmente começa a pensar no que precisa fazer para alcançar esse objetivo. Por exemplo, alguém que vai fazer uma festa faz um planejamento e define as tarefas para isso. Começa geralmente com a data, a lista de convidados, define o lugar, a comida, as bebidas, doces, toalhas, mesas, cadeiras, música, fotografia, etc. Dependendo do tema ou motivo, a lista pode ter mais itens ainda.

Do mesmo modo, para planejar uma carreira, é também preciso fazer uma lista (ou um mapa), definir objetivos e datas. É importante determinar quais objetivos deseja alcançar, dentro de um certo período, de modo que, ainda que faça pouco, vá constante e consistentemente dando pequenos passos em direção àquele objetivo.

Se fazemos um planejamento para um evento de um dia, como uma festa, por que não fazer um planejamento e traçar metas para a profissão que vamos exercer a vida toda?

Ingrid Osternack – Ilustradora

1) A primeira coisa que se pode fazer é um mapa ou uma lista de objetivos. Imagine daqui a 5 anos o que gostaria de estar fazendo. Definir uma data limite para si mesmo ajuda muito a ser consistente. Obviamente que os seus objetivos dependem de onde você se encontra hoje. Por exemplo:

Daqui a 5 anos eu:

. estarei formado em artes; ou . terei feito cursos extracurriculares na área de ilustração; ou . estarei com pelo menos 1 – ou mais – livros ilustrados publicados; . terei participado de alguma mostra ou evento de arte; . terei desenhado ou produzido pinturas diária ou semanalmente, gerando assim uma quantidade substancial de obras; . serei um artista reconhecido em minha área; . trabalharei na área de artes e serei bem pago pelo meu trabalho; . terei uma loja que venda minhas artes ou aplicadas em produtos; . terei uma obra em um museu importante; . e por aí vai…

Como eu disse, tudo isso depende do momento em que se encontra. Pode ocorrer também de, no meio do caminho, você desejar mudar seus objetivos, ou até mesmo ampliá-los.

2) Depois disso, é bom você determinar também qual seu objetivo pessoal em relação ao mundo, ou seja: qual o objetivo de minha arte? Pense em algo que tenha impacto – ainda que pequeno – na vida das pessoas. Que marca quer deixar no mundo?

Exemplos: meu desejo é ser reconhecido como um artista em minha cidade natal; ou: quero que minha arte inspire as pessoas; quero fazer parte da infância das crianças; quero que toda casa tenha uma obra minha; quero alegrar a vida das pessoas com minha arte; quero usar recursos que sejam sustentáveis; quero trabalhar somente com mangá; desejo usar meus dons para arte-terapia ou para melhorar a vida de pessoas carentes; gostaria de trabalhar somente com clientes e empresas que tenham valores similares aos meus, etc…

Isso vai ajudar e definir o tipo de clientes que terá e também quais trabalhos aceitará ou não.

3) Quais seriam os passos a tomar para chegar nesses objetivos?

Divida seu grande objetivo em pequenas metas. Muitos percursos são divididos em pequenos trechos. Os períodos escolares não são divididos em 5 aulas à toa. Até mesmo as viagens são divididas em etapas, quando longas. Assim também pode ser sua jornada em direção ao seu sonho. Pense no que precisa fazer para chegar lá e divida em pequenas partes, mas que possam ser feitas em questão de semanas ou meses. Como nós seres humanos geralmente temos a tendência a ser procrastinadores, quanto menor a tarefa, maior a chance de você executar.

Por exemplo:

. Se você deseja trabalhar com licenciamento, faça uma lista de quais lojas virtuais teriam a possibilidade de vender sua arte. . Ou, se você mesmo irá preparar os produtos, onde poderia encontrar fornecedores? Faça contato, visite-os. . Se deseja ilustrar para revistas ou livros, quais publicações ou editoras tem relação com o trabalho que faz? . Que galerias aceitariam as suas obras? Que tal visitar algumas? . Em quais concursos poderia participar? . Que materiais poderia adquirir para realizar seu trabalho? . Há um espaço em sua casa onde possa trabalhar? . Se fosse abrir uma empresa (ou studio), teria um nome diferente ou o seu? . Como iria legalizar sua profissão? Microempreendedor, empresa simples, autônomo? . O que você escreveria em sua biografia? Leia biografias de outros artistas para saber o que escrevem.

Responder a essas questões vai ajudar a visualizar a si mesmo como artista e motivar você a executar cada dia um pouquinho do seu planejamento. E quando menos esperar, estará fazendo o que ama como profissão. 😉

Como iniciar sua carreira de ilustrador

Frequentemente recebo mensagens me perguntando: “o que preciso fazer para me tornar ilustrador”?

Não é uma pergunta fácil de responder, pois cada ilustrador tem seu próprio percurso. Porém, vou citar alguns passos que você pode seguir que considero essenciais.

  1. Desenho versus ilustração

Desenhar e ilustrar estão muito ligados, porém não são exatamente a mesma coisa. Desenhar é produzir uma imagem, seja no papel ou no computador. Ilustrar é transformar um conceito, uma ideia, em um resultado gráfico. Mas para ilustrar, precisamos ter certa habilidade com a produção de imagens. Embora não seja imprescindível você ser um bom desenhista, é importante ter certa habilidade e tem que trabalhar bem com a produção de imagens.

2. Desenhe

Para se tornar ilustrador, o desenho é uma ferramenta importante. Portanto, pratique muito. A prática pode até não levar à perfeição, mas desenvolve pra caramba. Também é possível trabalhar com colagem, técnicas mistas, etc… mas eu diria que o desenho é fundamental para expressar ideias, principalmente se o seu cliente quiser visualizar um conceito antes de você apresentar a arte-final.

3. Digitalize

Se você trabalha com tinta, como eu, é importante que você apresente suas imagens digitalizadas. Há ainda editores que aceitam os originais para eles mesmos digitalizarem mas, por experiència própria, eu mesma prefiro fazer esse trabalho. Uma vez enviei minhas ilustrações para uma editora, pelo correio, pagando o meio mais rápido. A previsão era de 5 dias. Por algum motivo que desconheço, os originais chegaram 59 dias depois. E os correios nem se desculpam. Infelizmente isso prejudicou a data de lançamento do livro. Por sorte eu havia feito a digitalização em casa em alta resolução antes de enviar e pude enviar as minhas. Já imaginou se tivessem extraviado?

Se você não tiver um scanner, pode mandar digitalizar em alguma empresa que faça cópias. Geralmente eles fazem esse trabalho e nem custa muito caro.

4. Estude

Nem todo ilustrador é formado na área de artes ou design. Porém, estudar o mercado, conhecer técnicas, aprender sobre anatomia, história da arte, composição, etc… pode ajudar muito a agilizar o processo de você se tornar ilustrador profissional.

Hoje, com as novas tecnologias, podemos aprender muita coisa sozinhos. Porém, ao fazer um curso, ganhamos tempo, aprendendo com pessoas que já passaram pelos mesmos problemas que nós. E tempo é um recurso que não temos como recuperar.

5. Pesquise

Aprenda mais sobre como os outros ilustradores trabalham. Como solucionam problemas. Como apresentam suas ideas visualmente. Analise estilos e o que fazem que você aprecia. Com o tempo, você vai começar a desenhar incorporando o que mais gostou. E vai criar seu próprio estilo.

6. Portfólio

Depois que tiver feito muuuuuitos trabalhos, escolha os melhores e construa seu portfólio.

7. Divulgue

Divulgue seu trabalho nas redes sociais, faça contatos, envie cópias ilustrações para potenciais clientes. O começo não é fácil. Pode demorar mais de um ano para você conseguir seu primeiro trabalho. Porém, não desista. Tudo que é bom leva tempo.

8. Clientes

Uma vez que você conseguiu seu primeiro trabalho, não esqueça de “colocar tudo preto no branco”, ou seja, tenha um contrato. Analise bem o que está assinando, para que não fique tendo que modificar eternamente uma ilustração, só porque o cliente colocou isso em contrato. Seja profissional e educado. Não fique ofendido com comentários, nem imponha uma ilustração que eles não querem. Isso é prejudicial a você mesmo no longo prazo.

Um cliente contrata um ilustrador para resolver um problema que ele tem. E você faz uma ilustração que é a solução desse problema. Se a sua ilustração não for o que o cliente espera, você não está resolvendo o problema.

Para evitar que você tenha que modificar algum trabalho, apresente rafes para aprovação. Uma vez aprovadas, basta finalizar e entregar.

Como eu falei no início, há muito o que se dizer sobre o universo do ilustrador, mas os passos acima podem lhe dar uma ideia. Eu falo mais sobre isso no meu ebook MANUAL DO ILUSTRADOR INICIANTE, que você pode baixar gratuitamente em Downloads.

Se tiver alguma pergunta, entre em contato! Abs!

O Sonho de se Tornar Artista

Antes de eu me tornar ilustradora, trabalhei como professora primária e também no departamento comercial de uma grande empresa. Vindo de uma família simples, não tinha condições de somente estudar, e comecei a trabalhar enquanto ainda fazia o ensino médio. Sou formada não somente em Pintura, mas também fiz magistério no Ensino Médio, sou graduada em Administração na UFPR, fiz uma pós-graduação em Marketing, também um curso de aperfeiçoamento em Metodologia do Ensino Superior, além de cursos de aperfeiçoamento em ilustração infantil.

Todos esses cursos foram muito enriquecedores, mas desde muito pequena sabia que o meu sonho era ser artista e ilustradora. Ser artista, principalmente no Brasil, é uma profissão que requer muito jogo de cintura. Certamente existem países onde o artista tem mais oportunidades, mas em nosso país temos que ser flexíveis.

Na Itália, onde me formei em Belas Artes, não é diferente. Lá os ilustradores sempre tem uma outra fonte de renda. Quem trabalha somente com ilustração geralmente depende de outra pessoa (marido, família) para complementar a renda. Outros dão cursos, oficinas, ensinam em universidades, ou fazem algum trabalho relacionado a artes. Há aqueles que participam de feiras, vendem seus livros, visitam escolas, enfim, sempre atuando na área, mas dificilmente ilustram em tempo integral. Pelo que tenho observado com meus colegas, é a mesma coisa aqui.

O trabalho em si é algo muito importante para o ser humano. Tanto que, se você perguntar a alguém o que aquela pessoa é, ou faz, ela vai responder dizendo a profissão dela. Na grande maioria das vezes, a nossa profissão nos define.

Em algumas profissões, somente se obtiver um diploma e muita experiência, você pode dizer que é aquele ‘título’. Porém, com o artista nem sempre é assim. Ser artista tem uma conotação especial. Mesmo antes de se formar, quando – e se – isso acontece, você pode dizer que é um artista.

Ser artista é ser apaixonado por fazer arte. Um artista está sempre fazendo arte: nos cadernos de escola, no verso de papéis do seu trabalho, nos finais de semana, nas paredes, no guardanapo do restaurante… 🙂

Então, mesmo que uma pessoa trabalhe o dia todo em outra profissão, ela ainda vai achar um tempo para fazer sua arte. Pode ser à noite, nos finais de semana, mas a sua mente está sempre ligada em algo relativo a arte.

Às vezes, a correria do dia a dia nos faz deixar nossos sonhos para depois. Mas isso não precisa ser assim. Nunca é tarde para correr atrás do seu sonho.

Há alguns anos eu mesma estava trabalhando em outra profissão, e com filho pequeno. Eu entrava na empresa às 7:40 e saía 17:50. Era muito longe do centro da cidade e levava quase uma hora de ônibus. Porém, apesar de ser desanimador, decidi que iria estudar arte e passei no vestibular em duas faculdades, uma federal e outra estadual. Optei por uma das faculdades e comecei a estudar. Não foi fácil conciliar tudo isso. Minha mãe pegava três ônibus para ficar com meu filho bebê em minha casa.

Assim que terminei o primeiro ano de Desenho, meu marido foi convidado para passar dois anos na Itália. Deixei a faculdade de Desenho e comecei a me informar em como poderia estudar lá. Mesmo sabendo que ficaria somente dois anos, sabia que um ano de estudo lá seria uma grande oportunidade.

Na Itália também não foi fácil. Não conhecia ninguém, a creche era somente para crianças a partir de 3 anos e tinha fila de espera por vagas. Meu filho tinha dois anos e o valor de escola particular era absurdo. No primeiro ano fiquei somente pesquisando sobre faculdades. A cidade em que morava era muito pequena e só tinha uma linha de ônibus, que funcionava poucas vezes por dia.

Na época a internet era novidade por lá e não consegui nenhuma informação online. Com o auxílio de colegas de meu marido, descobri que a 90km dali havia a Accademia di Belle Arti de Veneza. Viajamos, meu filho de 2 anos e eu, de trem para obter informações em Veneza. A cidade era maravilhosa, mas tudo muito complicado. Pegamos o vaporetto, que é um barco-ônibus, e consegui chegar na Accademia. Lá me deram informações contraditórias. Como eu era estrangeira, teria que me inscrever para o vestibular (esami di ammissione) através do consulado brasileiro. Os documentos tinham que ser traduzidos (juramentados) e consularizados. Pensei: como é que eu, estando aqui, vou enviar tudo para o Brasil a tempo?

O consulado italiano é sempre muito cheio e, com a ajuda de uma grande amiga, consegui entregar toda a documentação no consulado um dia depois de as inscrições estarem terminadas. Eu lá na Itália e ela aqui para me ajudar. Por graça divina, o consulado aceitou minha documentação um dia atrasada (porque o malote ainda não tinha sido enviado) e consegui me inscrever para fazer o vestibular. Um detalhe importante se você pretende fazer uma faculdade na Itália: eles só aceitaram minha documentação porque eu já era formada em um curso superior. Caso contrário, eu teria que fazer uma complementação de estudos antes de ingressar na faculdade.

Os exames de admissão consistiam em provas orais de História da Arte Italiana, um desenho livre e desenho de observação. Neste último tínhamos que desenhar a modelo (nua) que tinha vindo posar.

Como eu era estrangeira, fui dispensada do exame de História da Arte Italiana, mas fui entrevistada por uma banca que me fez outras perguntas.

Dias depois, quando vi que tinha sido aprovada, foi uma dos momentos mais felizes de minha vida. Porém, a jornada estava só começando…

Para não ficar muito longo, vou contar minha experiência na próxima postagem. 🙂