Talento para desenhar: isso existe mesmo?

Essa questão aparece com frequência nas mensagens que recebo. Muita gente, antes mesmo de tentar aprender, já desanima achando que “não nasceu com o dom”. Outros escrevem nos comentários: para ser ilustrador, só é preciso talento.

Eu confesso: eu não acredito nisso. E sabe por quê?

Porque eu não desenhava bem, nem demonstrava nenhuma habilidade especial. É só olhar meus desenhos da infância ou até da adolescência…

Ao longo dos anos, convivendo com centenas de alunos e colegas ilustradores, percebi uma coisa: o que muitas pessoas chamam de talento, na verdade, tem muito mais a ver com interesse, prática e consistência do que com algo que “se tem ou não se tem”.

O que é talento, afinal?

Talento costuma ser entendido como uma facilidade natural ou até mesmo uma aptidão para aprender ou fazer algo. De fato, há pessoas que têm mais facilidade com coordenação motora, percepção espacial, ou que desde pequenas observam o mundo com mais atenção. Mas, sem desenvolver essa aptidão, não há aprimoramento.

Eu também já fui professora de educação infantil, e estudando sobre o desenho da criança, praticamente 100% deles desenham do mesmo jeito e passam pelos mesmos estágios do desenho. 

Há vários livros que falam sobre isso, entre eles, O Desenho Infantil, de Georges Henri Luquet, um clássico na área. No livro, Georges fala que toda criança passa por fases previsíveis no desenho. Ora, se é assim, onde estão as crianças que já ‘nascem desenhando’?

E não é só nesse livro. Tem muitos outros estudos que dizem que todas as crianças, independentemente de cultura ou educação, passam por essas fases em uma ordem semelhante. Não é incrível?

Mas então, como explicar o fato de que alguns desenham melhor que outros?

Na minha opinão, a diferença é o interesse, a prática constante e o desejo de melhorar a cada dia. Quem gosta de desenhar quer vencer o desafio de fazer algo melhor a cada dia.

Note que, quem desenha ou tem interesse, está sempre observando como foi feito um desenho. Veja nos museus: as pessoas chegam mais perto para tentar entender como o artista fez alguma coisa que gerou interesse.

Isso acontece comigo também. Quando eu vejo algo novo, já penso em como incorporar isso no meu trabalho. Um novo jeito de fazer uma sombra, uma nova paleta de cores… E nem sempre é fácil. Mas assim como acontece comigo, vejo que acontece com muitos artistas: sempre estão querendo fazer algo diferente que melhore o seu desenho. É divertido – e ao mesmo tempo frustrante – tentar fazer algo novo artisticamente. Vivemos num mundo onde um inspira o outro.

De fato, até meus alunos me contam que, depois que começaram o meu curso, ficam olhando as formas, cores e texturas de tudo.

Começar a desenhar muda o olhar, e faz com que a gente tenha mais interesse. E isso, consequentemente, aliado ao interesse em se aprimorar, faz com que uma pessoa se desenvolva.

E não é só no desenho: isso acontece na música e nos esportes também.

No filme, Um sonho possível, com a Sandra Bullock, ela acolhe um menino que nunca jogou futebol americano e já é um adolescente de 16 anos. Ele não ‘nasceu com a bola no pé’, nem teve contato com o esporte na infância. Mas a família vê que ele tem o tipo físico para uma certa posição no futebol e eles o fazem treinar o esporte.

O filme mostra que ele não sabia nada de futebol americano, mas eles não deixam ele desistir. E ele treina tanto que fica bom no que faz e até inicia sua carreira profissional na NFL – Liga Nacional de Futebol Americano.

Dizem que até Elvis Presley foi rejeitado como cantor. Segundo o site Vida e Memória, que fala sobre a vida de várias celebridades, antes da fama, Elvis tentou entrar em uma banda profissional e foi rejeitado. O líder da banda disse que “era melhor continuar dirigindo caminhões, porque nunca conseguiria ser cantor”. Mesmo assim, Elvis não desistiu e se tornou um sucesso.

Desenho se aprende

Portanto, eu acredito que desenhar é uma habilidade técnica que pode ser aprendida. O olhar pode ser treinado. A mão pode ser educada. A criatividade pode ser estimulada. É como aprender a tocar um instrumento ou falar uma nova língua: leva tempo, exige esforço, mas é totalmente possível.

Sabe o que conta de verdade? O quanto uma pessoa ama o desenho. Porque se amamos uma coisa, a gente acha tempo para se dedicar a ela. E nem precisa ser muito tempo no dia. Só um pouco, durante a semana, já faz milagres.

Quem desenha bem hoje, na maioria dos casos, já desenhou muito mal antes. A diferença está em quem não desistiu no começo, praticou mesmo sem ver grandes avanços, e manteve o amor pelo processo. Ou seja, não é uma questão de talento, é uma questão de caminho percorrido.

Eu já assisti aulas de desenho em que o professor disse: todo mundo que desenha bem, desenha mal também. Só que os desenhos ruins, eles não mostram. 😅

Quando a gente acredita que só pessoas “dotadas” conseguem desenhar, isso vira um bloqueio. É um pensamento que paralisa a gente e não nos deixam nem experimentar.

Não estudamos, não aprendemos, não melhoramos, nem evoluimos em nosso desenho. Na verdade, é o medo do julgamento e da crítica que impede a gente de começar.

Você é ÚNICO e não precisa desenhar como ninguém além de você mesmo

Sabe o que é mais legal em ilustração — especialmente nos livros infantis — é que há espaço para muitos estilos. O traço naif, o mais elaborado, o minimalista, o ‘caprichado’… todos podem emocionar, encantar e contar histórias. Porque o que conta muito, em ilustração, é a sua capacidade de contar uma história e encantar o seu leitor.

Prática constante x talento escondido

Eu conheço pessoas que desenhavam bem quando criança e hoje não desenham mais nada.  E outras que começaram com dificuldades, mas praticaram com foco e determinação e hoje ilustram lindamente. A diferença está em estudar com método, se permitir errar e curtir o processo, não somente o resultado. 

Porque quando você desenha, e curte o que faz, aquilo não é mais um peso, e você dedica tempo para fazer cada detalhe bem feito.

Me diga: quem é que continua fazendo algo que só gera frustração? Se desenhar vira um fardo, a pessoa pára. Mas se o momento do desenho é leve, prazeroso ou até terapêutico, o hábito se mantém — e com ele vem a evolução do seu desenho, porque não tem como ficar pior se desenhar é algo que você faz quase todos os dias e tem prazer nisso.

Você também pode aprender — e surpreender

Se você sente vontade de ilustrar, essa vontade já é um sinal que o ‘bichinho’ da ilustração te pegou. Ele tá te chamando para um caminho criativo, cheio de descobertas. E você não precisa nascer com talento para começar. Precisa só ter vontade, curiosidade e dar um primeiro passo.

Se quiser começar com apoio e estrutura, te convido a conhecer meu curso de ilustração infantil — onde ensino do zero, com leveza, prática e propósito.

Quem começa, geralmente se surpreende com o quanto é capaz. Algumas alunas minhas dizem: eu não sabia nem desenhar boneco palito quando comecei. E até já publicaram sua ilustração. 

Concluindo, ilustrar não é um dom reservado a poucos e você também pode aprender. E você não precisa de permissão para começar — só de coragem.

Vamos lá realizar esse sonho?

Conheça meus cursos:

OFICINA DE DESENHO DE PERSONAGENS Oficina que dei ao vivo em março de 2025, onde desenhamos vários personagens do zero.

CURSO ATELIÊ ILUSTRE – Desenho, materiais, técnicas, composição, narrativa, passo a passo de ilustração para você fazer junto comigo, etc

CURSO BE ILUSTRE – Já desenha e ilustra, mas quer aprender sobre storyboard, thumbnails, como montar o livro, a parte técnica, comercial e editorias? Clientes, lista de editoras de livros infantis no Brasil, outras formas de publicar, marketing e divulgação.

MÉTODO INGRIDFormação completa (Ateliê Ilustre + Be Ilustre) – com certificado emitido pela Fex Educação, credenciada no MEC

WORKSHOP DE PINTURA – TÉCNICA EM ACRÍLICOFaça uma ilustração comigo – Workshop que dei, ao vivo, totalmente gravado para você seguir o passo a passo.