Seja o protagonista de sua vida, e não o personagem secundário

Imagino que, estando aqui agora no meu blog, você já saiba que eu trabalho com literatura infantil, especialmente com ilustrações para livros infantis.

Por esse motivo, às vezes uso analogias da área para falar sobre a vida em geral.

Como dizem, é a arte que imita a vida? Ou é a vida que imita a arte?

Nesse caso, não estou falando somente de artes visuais ou ilustração, mas de todas as ‘artes clássicas’, como arquitetura, escultura, pintura, música, literatura, dança e a chamada sétima arte: o cinema.

Mas vou focar hoje mais em literatura e cinema.

Confesso que é impossível, para mim, ler um livro, ouvir uma música, assistir um filme, ou até mesmo um desenho animado, sem pensar em alguma relação ou aplicação para a minha vida.

Para mim, um livro que ‘fala’ comigo, com a minha vida, com a minha personalidade, faz com que eu me sinta pertencente àquela história. E acho que isso é que faz com que o cinema, por exemplo, seja um tipo de entretenimento tão valorizado.

QUEREMOS empatizar com o protagonista. E se isso não acontece, ou se os acontecimentos são irreais, aquele filme ou livro certamente não será memorável para nós.

Quando lemos ou assistimos um filme, queremos ver o que vai acontecer, torcemos para que o personagem principal, ou protagonista, faça acontecer.

Queremos ação, superação de obstáculos, realização de sonhos. É isso que buscamos quando nos envolvemos em uma história.

Afinal, quem quer assistir um filme onde não acontece nada, ou que o protagonista não tem garra para correr atrás do que quer?

E isso me faz sempre pensar: estou sendo protagonista de minha própria história?

Ou estou ‘deixando rolar a vida’, sendo levada pelos acontecimentos, esperando que algo aconteça que vá mudar a minha vida, com num milagre?

Estou esperando ter mais tempo, mais recursos, um momento perfeito para começar a realizar os meus sonhos?

Ou sou apenas uma personagem secundária no livro ou filme da minha própria vida?

Sou alguém que atua, não importa em que área, de modo a ser vista como uma pessoa que está tomando as rédeas de sua vida em suas próprias mãos?

Ou estou esperando que alguém diga: Venha! Vou te ajudar e aí tudo vai dar certo!

Estou esperando ser ‘descoberta’ por alguém? Esperando que ‘alguém reconheça o meu valor’?

Estou, no mínimo, fazendo alguma coisa para ser descoberta?

Ou, se eu for descoberta como alguém relevante em alguma área, terei alguma coisa para mostrar? Terei produzido, impactado, atuado de modo que eu seja considerada relevante?

Ao assistir seu próximo filme ou ler seu próximo livro, note como o protagonista passa por uma porção de dificuldades durante a história.

Ele começa com um problema, que intensifica durante a história. Depois, junto a isso vem os desafios, às vezes até traições de conhecidos, gente tentando ‘puxar o tapete’ dele. E aí ele vai até o fundo do poço.

De repente, ele aparece pensando, caminhando, digerindo seus problemas – esse é aquele momento em que a música do filme costuma tocar mais tempo (uns 30 minutos antes do fim).

E então ele tem aquele momento “uau”!

No tempo que ele usou para pensar (certamente mais tempo que os 3 minutos de música), ele refletiu e bolou um plano para resolver o problema dele e:

  1. Conquistar o amor de sua vida
  2. Conquistar o emprego ou a promoção
  3. Realizar o seu sonho de vida
  4. Superar uma doença ou algo que o incomoda
  5. Abrir seu próprio negócio
  6. Realizar a viagem que sempre sonhou
  7. Mostrar que tem valor, mesmo vindo de uma família humilde ou de uma situação de pobreza
  8. Mostrar que a ideia dele tem valor e que pode mudar a vida de muitas pessoas
  9. E por aí vai…

Mas quem faz tudo isso no filme: o protagonista ou o personagem secundário?

Sempre tem personagens secundários nos filmes. E eles aparecem somente em função do que acontece com o protagonista. Eles são levados a fazer alguma coisa em benefício do protagonista, aparecem quando o protagonista aparece – e se aparecem sozinhos, sempre será algo que farão pelos protagonistas.

Se os personagens aparecerem de repente, sem motivo, geralmente é para mostrar que terão, durante a história, algum impacto na vida do protagonista.

Na minha área, vejo muita gente aguardando o momento certo para começar alguma coisa, para começar a escrever seu livro, para começar a ilustrar…

Será que algum dia teremos esse momento perfeito? Será que temos que aguardar algo acontecer para começarmos a atuar em beneficio de nossos sonhos? Ou devemos começar a olhar de forma a agarrar toda oportunidade, como se fosse a última (ou a única)?

A vida é curta. E precisamos agir em favor de nós mesmos. Precisamos correr atrás do que queremos, pois cada um tem seus desafios e objetivos.

Lembre-se: para as outras pessoas, você é um personagem secundário na vida delas. Elas são as protagonistas. Elas não vão colocar você em primeiro lugar, a não ser que isso seja algo para impactar a história delas mesmas!

Algumas pessoas estão atuando como protagonistas, de fato. Mas há aqueles que atuam, em suas próprias vidas, como personagens secundários, deixando a vida levar, e às vezes, até trabalhando pelo sonho de outra pessoa.

Ser protagonista de sua própria história é assumir o controle de sua própria vida. É não responsabilizar a sociedade, os parentes, os pais e qualquer outra pessoa ou situação por sua vida.

Ser protagonista é assumir a responsabilidade do que acontece conosco. É atuar de forma a não deixar o que acontece conosco nos abater.

Sim, vivemos em sociedade e nem sempre as coisas vão acontecer como queremos. Problemas e desafios virão. Nem sempre seremos reconhecidos pelo nosso valor e nem sempre as circunstâncias serão a nosso favor.

Mas não devemos desistir. Quem espera, sempre alcança.

Quem persiste, pode vencer ou não. Mas quem não persistir, já perdeu.

Assim como num filme onde TUDO acontece de errado para o personagem principal, em nossas vidas teremos muitos desafios. Muitos mesmo.

Mas devemos encarar como obstáculos que podem ser superados. Como nos games, quanto mais obstáculos, mais alto o nível e maior a recompensa (mais moedinhas também?).

Na verdade, se não houver obstáculos, lutas, problemas, dificuldades a serem superadas, não empatizamos com o personagem. Já notou?

Se a luta para exterminar o malvadão durar pouco, dizemos: Ah! Que sem graça! Foi muito fácil!

Não é verdade que se um protagonista não tem desafios, não torcemos por ele? Queremos ver personagens com coragem, com garra, sem com medo, mas indo à luta.

Somos humanos e não queremos personagens perfeitos. Queremos protagonistas que tenham falhas ou fraquezas. Do contrário, não empatizamos. Até o Super Homem tem suas fraquezas: a criptonita e, é claro, a Lois Lane. Ele não vai atacar o Lex Luthor se colocar a Lois em risco, né?

Às vezes, o que queremos é até ver o personagem medrosão enfrentar desafios para aprender a não ter medo.  Não é assim?

Ah! Essas histórias em que há mudança interna são as minhas preferidas.

Ou então aquelas em que a pessoa é insegura com relação a alguma coisa, mas de repente, depois de um acontecimento, que a deixou lá no fundo do poço, ela busca forças para recomeçar. Às vezes, foi algo que ela ouviu e mudou sua mentalidade (ressignificou seu pensamento), ou algo que ela fez e viu que tinha capacidade, surpreendendo a si mesma. E percebe que, se ela mesma não for à luta, o que ela quer não irá acontecer. Em filmes, queremos que as pessoas busquem essa realização.

Mas, e na vida real?

Muitas vezes, temos receio de que as pessoas nos julguem, nos chamem de malucos.

Note que, se alguém se destaca em algo, e ainda não chegou lá, é visto como maluco. Mas espere ele ficar famoso – ou bem sucedido –  para ver como ele, de repente, se torna um visionário.

É fato que nem todos podem ser protagonistas num filme. Tem que ter personagens secundários, e é preciso ter figurantes.

Mas nós podemos, pelo menos, ser protagonistas de nossa própria história.

Para um dia, ao olharmos para trás, dizer com orgulho: valeu a pena meu esforço!

Para isso, é importante decidir o que queremos ser, não somente com palavras, mas com planejamento e ações.

Ações com data marcada, pois como sempre digo: o objetivo é um sonho com data marcada para acontecer.

E, então, dar um final bem feliz à nossa história!

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Não perca, amanhã, sábado, dia 1º de Outubro, lançamento do livro “A Princesa Naselda”, escrito e ilustrado por mim.

Naselda é a protagonista da história que busca solução para um problema. Venha descobrir como essa história termina!

Saiba mais AQUI!

Serviço:
Lançamento “A Princesa Naselda”
Dia: 1º de outubro Horário: das 11h às 13h.
Local: Biblioteca Pública do Paraná (R. Cândido Lopes, 133 – Centro).
Atividades interativas:
Oficina artística com a autora e ilustradora Ingrid Osternack: 11h15 às 11h45.
Contação de histórias com Companhia Girolê: 12h às 12h30.
Sessão de autógrafos: das 12h30 às 13h.

Devo assinar minha ilustração?

Algumas pessoas me perguntam se devem ou não assinar suas ilustrações. Em geral, quando fazemos um trabalho para um livro, não costumamos assinar as ilustrações. Eu mesma não costumo assinar minhas ilustrações quando envio para serem publicadas num livro.

Nos livros que produzimos na Vivência do Ilustrador, eu deixo a critério do aluno.

Ilustração para o livro Cheiros, 2016

Há, de fato, ilustradores que são famosos, como o Ziraldo ou o Mauricio de Souza, que assinam seu trabalho. Porém, já chegaram ao ponto de celebridades, ou até mesmo são seus próprios chefes e eles que decidem.

Entretanto, há ilustradores que, embora suas obras sejam espetaculares, trabalham de modo praticamente anônimo. Às vezes, se um ilustrador trabalha com ilustração digital, fica ainda menos propenso a assinar. Isso talvez se deva ao fato de que muitas ilustrações digitais – sobretudo vetoriais – são entregues em arquivos abertos, sob solicitação do cliente, e outros ilustradores acabam alterando as mesmas, não se tornando mais trabalho de um só artista.

Por outro lado, aqueles que trabalham com ilustrações em técnicas tradicionais acabam tendo um viés mais ‘artístico’, e raramente um outro ilustrador bota a mão em suas obras. Obviamente, há exceções, mas em geral, é mais difícil alterar digitalmente – embora não impossível – uma ilustração feita com tinta ou lápis de cor.

Na minha opinião, ao entregar um trabalho para um cliente, não devemos assinar nossas ilustrações. Já imaginou um livro infantil com sua assinatura em todas as páginas? Cada caso é diferente, mas pode ficar exagerado e o cliente até pedir para o designer apagar, ou então isso acabar fazendo com que ele contrate outra pessoa para os próximos trabalhos.

Mas… quando assinar, então?

· Às vezes, na correria, eu nem lembro, mas eu acho que é bom inserir seu nome no canto da imagem quando postar suas ilustrações em redes sociais. Isso porque algumas pessoas podem compartilhar, ou ver somente a imagem sem ler o texto que acompanha, e é importante que passem a relacionar o estilo de ilustração com seu nome.

· Quando for vender seus originais. Lembre que, originais feitos com técnicas tradicionais são considerados obras de arte. Um original é algo único, raro, que tem muito valor.

· Em casos de ilustrações com tiragens limitadas. Exemplo: posters impressos em papéis especiais.

· Quando a sua assinatura agregar valor à sua ilustração. Uma vez que alguém fica muito famoso, qualquer obra sua passa a valer muito mais, o que faz com que a assinatura dê mais autenticidade à obra.

Como assinar?

Eu sugiro que seja pequeno e legível. Alguns artistas ficam com medo de postar, ou usam marca d’água. Mas isso acaba prejudicando a beleza da ilustração e, sinceramente, quem trabalha bem com Photoshop vai acabar conseguindo remover a marca d’água, se realmente quiser usar sua ilustração indevidamente.

Também sugiro usar seu nome não abreviado, pois é importante construir sua marca pessoal. Se for assinar mesmo, que seja legível, pois a quantidade de informação hoje faz com que ninguém fique mais que 2 segundos olhando algo. Imagine ter que decifrar garatujas.

Há artistas que colocam suas assinaturas escondidas na ilustração. Como não ficam visíveis, você acaba não se promovendo. Entretanto, creio que, se um dia precisar comprovar que é sua, pelo menos dá para dizer e mostrar que seu nome está lá. No entanto, nem sempre é fácil ‘esconder’ seu nome numa ilustração, embora não impossível.

Agora veja a ilustração acima e encontre meu nome. 🙂

Ilustrado final de semana!

Hábitos do Artista Produtivo – 1० Hábito

Tenho por hábito 😀 ler tudo quanto é livro e artigo sobre arte, desenvolvimento artístico pessoal, ilustração, empreendedorismo… Gosto muito de ler – e também assistir a vídeos que possam enriquecer o meu trabalho. Entretanto, confesso que ler é um grande prazer que tenho e, portanto, estou sempre em busca de novos livros ou textos que falem sobre a área de artes e ilustração. Sendo assim, já li e ouvi muito sobre os hábitos que uma pessoa “deveria” ter para ser um artista eficaz. Nem tudo que se fala funciona para todo mundo e, como já faz alguns anos que trabalho como ilustradora, algumas vezes eu concordo, outras eu discordo… 

Frequentemente recebo mensagens de pessoas que estão iniciando nessa área, e por isso resolvi comentar alguns desses hábitos aqui no meu blog. Meu objetivo é poder ajudar quem está começando, e certamente também aprender com essa troca de ideias, caso desejem comentar abaixo. 😉

A intenção não é fazer uma lista do que se deve fazer, mas sugerir algumas práticas que podem auxiliar o aspirante a ilustrador.

O primeiro hábito é algo muito simples. Simples mesmo, mas vejo que muita gente acha tão banal que não acredita que faça diferença. Mas faz. E muita.

1० Hábito: Desenhar diariamente

Sim, é verdade que a vida anda corrida, que temos muito o que fazer, que as mídias sociais tem tomado muito do nosso tempo. Vivemos sendo bombardeados por informações novas o tempo todo. Temos muitos compromissos e as demandas da vida moderna nos sobrecarregam.

Entretanto, é nesse mundo agitado que vivemos e, felizmente para alguns, infelizmente para outros, temos que nos habituar a isso. Todos temos famílias, familiares idosos ou enfermos, trabalho extra, sem falar no trabalho doméstico, que somente uns poucos privilegiados não precisam fazer. Certamente isso dificulta, mas uma alternativa é considerar o desenho como um compromisso.

Mesmo que você tenha um trabalho durante o dia, é possível separar algum momento para você desenhar ou pintar. Nem que seja por alguns minutos, é interessante fazer ao menos um esboço. Isso, é claro, se o seu objetivo for trabalhar com ilustração ou arte.

Você pode estar se perguntando: mas de que adianta fazer só um esboço? O objetivo aqui não é somente praticar, mas adquirir o hábito. Se você marcar num calendário um X a cada dia em que desenhar ou pintar, verá que você mesmo tende a não deixar um dia sem o X. Dá uma sensação de realização!

Imagine você olhar para o calendário do ano anterior e constatar que em todos os dias você fez algum trabalho em direção ao seu sonho? Além disso, estará construindo o seu portfólio!

Tudo que desejamos sempre requer um esforço. Um conhecido meu dizia – brincando – há alguns anos: “eu só quero vender minha arte na praia”. E eu sempre respondia a ele, no mesmo tom de brincadeira: “para vender sua arte, tem que fazer a arte.  Já começou a produzir sua arte?”  Há uma frase que gosto muito e que resume tudo isso que estou escrevendo:

E isso é verdade. Não é à toa que as escolas dividem as disciplinas em pequenos períodos de tempo. E também não é à toa que a dificuldade vai aumentando conforme vamos aprimorando o que já sabemos. No fim, algum resultado você obtém. 

Uma outra vantagem em desenhar diariamente é que “a prática leva à perfeição”. Quanto mais você faz alguma coisa, a cada vez você aprende ou aprimora alguma coisa em seu desenho. E assim, a cada dia você observa o seu progresso. Na verdade, vou falar mais sobre isso na semana que vem. Você pode começar marcando um horário específico para desenhar, ou então levar um bloco e lápis junto a você para que, naquele momento em que você aguarda alguma coisa (médico, ônibus, etc), você possa rabiscar.

E foi exatamente por isso que criei o Desafio Gratuito de Ilustração. Para que as pessoas criem a rotina de desenhar. Se você quer ser ilustrador, esteja no início ou em transição de carreira, tem que encontrar tempo para desenhar.

Como muita gente me escreve dizendo também que não sabe o que desenhar, ao criar o desafio, meu objetivo era resolver dois problemas: criar a rotina e saber o que desenhar. Basta se cadastrar que você vai receber, todos os dias, dicas e sugestões do que desenhar durante 30 dias. Gratuitamente.

Quem sabe esse não é o primeiro passo para um novo hábito? 😉

Bom final de semana!

#hábitosartistaprodutivo #ilustração

“VOCÊ AINDA NÃO ESTÁ PRONTO(A)…”

Olhe para os dois lados (Look both ways) é um filme que estreou na Netflix essa semana, e que mostra dois lados de uma situação. Na verdade, mais que dois lados, tenta mostrar como seria a vida da personagem em dois caminhos divergentes.

Spoiler Alert: Se você ainda não assistiu, vou falar um pouco sobre a história nessa postagem, então, perdoe-me por contar um pouco do que acontece. Prometo não contar o fim do filme e me ater somente ao necessário.

Eu confesso que o enredo me chamou muito a atenção, embora a história não tenha se desenvolvido de acordo com minhas expectativas, e eu esperava um outro final, mas a parte a respeito da carreira dela foi o ponto alto para mim.

Na minha opinião, não existem somente dois caminhos para cada situação, e a vida tem desdobramentos muito mais complexos que os retratados no filme, mas quero enfatizar algo que me chamou a atenção: a protagonista, Natalie, é ilustradora.

No filme, Natalie não trabalha ainda com ilustração, mas o sonho dela é trabalhar com Lucy Galloway, que é, diria eu, dona de um estúdio famoso de animação e, com alguma ajuda, ela consegue realizar esse sonho já no início do filme.

Porém, não como ilustradora, mas como assistente. Durante o filme, vemos pouco do que realmente acontece no estúdio, mas chega o momento em que Natalie pede para Lucy avaliar o portfólio dela.

Ao dar o seu feedback, Lucy diz a Natalie que ela tem talento, que tem boa perspectiva, boas sombras, mas que são pouco originais. Na minha interpretação, Lucy diz a Natalie que ela ‘não estava ainda pronta’ para ser uma ilustradora no estúdio dela. Que ela não era original, que não tinha a própria ‘voz’, que é algo que eles usam muito nos EUA (voice). Eu traduziria aqui como estilo.

O que acontece depois eu não vou contar. Mas é claro que essa decepção vai levar Natalie a passar por alguns estágios do luto da carreira que tanto sonhou: choque e negação – não acredito! -, raiva, depressão, aceitação ou integração e finalmente: transformação!

E é aí que vemos como funciona bem o processo de aprendizagem – não sei se já contei, mas tenho pós em Metodologia do Ensino Superior também.

Entre várias teorias, dizem que existem alguns estágios para aprendermos qualquer coisa.

O primeiro seria você copiar, que é o estágio onde o aluno imita o mestre, pois ainda não domina todas as ferramentas e técnicas.

O segundo seria onde o aluno experimenta, que, diria eu, era onde Natalie estava quando apresentou seu portfólio. Ela pegou o que aprendeu, fez alguma modificações, acertou e errou, tentou fazer sem copiar, mas ainda não havia colocado algo dela mesma no trabalho.

E o terceiro seria quando o aluno já dominou as técnicas, já experimentou, descartou o que não gostava, mexeu aqui e ali, incorporou novas ideias, e criou algo novo, que é só seu, e tem a sua própria ‘voz’ (estilo).

E creio que acontece na vida de muita gente aquele momento em que nos sentimos lá no fundo do poço, mas que é quando percebemos que precisamos tomar uma atitude, retomar a vontade de seguir em frente, agir e dar a volta por cima.

Desenhar e tentar fazer ilustrações e personagens similares aos que já são famosos acaba sendo algo muito interessante para aprender, mas é importante persistir, experimentar, e descobrir o que é seu. Tentar várias técnicas, tentar usar ferramentas diferentes, colocar a mão na massa.

Dias atrás ouvi que nem sempre o melhor é o que tem mais sucesso, mas aquele que é diferente. E, seja bom ou seja ruim, às vezes isso é verdade.

Em ilustração, ser diferente é algo que pode levar você a se destacar no meio de tantas pessoas que tentam dominar o que já existe. Porém, para inventar algo novo, creio que é importante aprender muito do que já existe, para não perder tempo inventando novamente a roda. Aprender com outras pessoas pode ser um atalho para você chegar onde quer muito antes.

Mas não é só isso que o filme me trouxe. Trouxe também uma lembrança de algo que aconteceu comigo, quando comecei nessa carreira, há muitos anos.

Sei que é importante não só contar o que acontece de bom com a gente, mas também mostrar as dificuldades que passamos, para inspirar quem ainda não iniciou. Para saberem que temos que perserverar, não desistir e, principalmente, buscar aperfeiçoamento.

Depois que me formei na Accademia di Belle Arti e voltei para o Brasil, procurei clientes para apresentar meu portfólio. Eu tinha acabado de fazer um curso de aperfeiçoamento em ilustração infantil e tinha sido maravilhoso. Isso já faz muuuuito tempo. Foi logo que comecei a ilustrar.

Indicada por uma conhecida, entrei em contato com uma escritora com vários livros publicados. Ela achou o meu trabalho maravilhoso, e até começou a produzir um livro para que eu ilustrasse para ela. Confesso que fiquei exultante em saber que meu trabalho tinha inspirado alguém a produzir um livro.

Assim, nos dias que se seguiram, trocamos muitos emails e – naquele tempo – não tinha ainda o Whastapp, então usávamos também o Messenger do Facebook que, na época, nem tinha esse nome.

Enfim, conversamos bastante, perguntei exatamente o que ela queria, fiz até alterações, por mais difíceis que fossem, pois queria muito agradar à minha cliente.

Para apresentar melhor meu trabalho para a editora, pedi um trecho do livro para a escritora (eram contos infantis) e ilustrei três deles.

Fiz o meu melhor. Caprichei na composição, no desenho, na técnica e… enviei para a escritora, que iria levar na editora, junto ao texto dela.

Alguns dias depois, a escritora me respondeu que tinha ido até a editora (tempos um pouco menos virtuais do que hoje) e apresentado o trabalho – meu e dela, e que eles tinham gostado muito da ideia do livro, e que tinham interesse em publicar. No entanto, quanto a mim, a notícia não era tão boa: acreditavam que eu ainda “não estava pronta” para ilustrar um livro.

Essa ilustração não é parte daquele projeto, mas achei que reflete
bem o estado de ânimo que a gente fica quando perdemos um trabalho.

Confesso que doeu bastante e que fiquei bem decepcionada. Uma grande chance desperdiçada. Me senti no fundo do poço.

Ela também me contou que eles já tinham alguém em mente para ilustrar o livro dela, o que de fato aconteceu mesmo.

Quando eu vi quem tinha ilustrado, fiquei até um pouco aliviada, pois era alguém que estava muito em evidência e, acredito eu, daria mais visibilidade ao livro. Daí o motivo de não terem me escolhido.

Na verdade, a pessoa que ilustrou já tinha uns 30 anos de experiência, fazia um bom trabalho, tinha um estilo diferenciado e era famosa por suas artes.

Pensar que não fui trocada por alguém ‘normal’, mas uma pessoa já bem estabelecida na área serviu para me consolar de que eu não era tão ruim assim. Perdi um trabalho, mas pelo menos perdi para uma ‘celebridade’. (Ok, ok, vai que eu não fazia tão bem assim… mas deixa eu me iludir nessa questão. Rsrs!).

Enfim, isso me marcou muito. E me ajudou a perceber que, não é como dizem por aí, que basta você desenhar, fazer um curso superior de artes, ou então só saber vender, mesmo que você desenhe ‘bonecos-palito’.

Verdade! Já ouvi gente dizendo que é só o marketing que faz vender o seu trabalho, que você não precisa nem saber desenhar.

Mas… será mesmo?

Veja o meu caso: eu tinha a história, o autor, a editora… e mesmo tendo feito cursos de arte e especialização na área de ilustração de livros infantis, ainda assim não consegui o trabalho.

Voltando à nossa história, já faz tempo que isso aconteceu, eu era iniciante e não conhecia tudo o que sei hoje sobre ilustração.

Foi necessário uma decepção como essa para eu perceber que não bastava desenhar, ter técnicas, ter o cliente. Havia outras coisas que eu tinha que aprender ainda.

E corri atrás. Corri atrás e aprendi tanto que agora não dou mais conta de atender a todos que me pedem orçamento.

Com o tempo fui percebendo que não basta somente saber desenhar, não basta somente saber técnicas, não basta ter somente ter contatos, ou saber divulgar e vender seu trabalho. É um conjunto de todas essas coisas – e talvez algumas outras – que faz com que você seja bem sucedido.

Como eu já mencionei aqui antes, o sucesso é a soma do preparo mais a oportunidade.

Não adianta saber fazer tudo direitinho e não ter oportunidades. E também não adianta ter só oportunidades e não ter um bom trabalho.

Então, para ser bem sucedido na área de ilustração, e principalmente o meu nicho, ilustração infantil, você tem que ter um trabalho BOM, de qualidade.

Aprendi isso a duras penas, e acho que muita gente passa anos batendo a cabeça – como eu – até aprender. Mas quanto tempo desperdiçado!

Estamos num processo de eterna aprendizagem. E há áreas que, se você não se atualizar, a sua graduação não servirá por muito tempo. Tecnologia da Informação é uma delas. Quem se formou há dez anos, se não estiver no campo de batalha, ou aprendendo diariamente, verá seu conhecimento se tornar praticamente obsoleto.

Eu mesma sou graduada em Administração, depois fiz uma pós em Marketing, uma pós em Metodologia do Ensino Superior, então resolvi correr atrás do meu sonho: me formei em Belas Artes na Itália, e fiz mais alguns cursos de aperfeiçoamento em ilustração infantil, na Itália e na Inglaterra.

O que quero dizer com isso: para estarmos prontos para o mercado de trabalho, temos que nos preparar e estar sempre atentos às mudanças. Todo dia tem alguma novidade.

Estudar, praticar, desenhar, aprender novas técnicas, aprender a apresentar seu trabalho, mostrar expertise, demonstrar que conhece o processo… tudo isso é importante para que, quando surgir a oportunidade, estejamos preparados e não tenhamos que ouvir: “Você ainda não está pronto”.

Um excelente final de semana!

Processo de Impressão de Livro Infantil

Muita gente não tem ideia do trabalho e da quantidade de pessoas que se envolvem na produção de um livro infantil.

Por isso, fiz um video curtinho – 2 minutos – mostrando algumas etapas. Não todas, porque como são muitas pessoas envolvidas, não estive presente em todas.

Entretanto, acompanhei o processo de impressão de meu último livro, A Princesa Naselda, escrito e ilustrado por mim.

Em outubro, faremos o lançamento na Biblioteca Pública do Paraná! Darei mais informações em breve (data, horário e programação).

Espero que curta!

BIENAL… E DIZEM QUE BRASILEIRO NÃO LÊ?

Depois de muitos meses trancados em casa, mais de um milhão de pessoas decidiu ir à Bienal do Livro de São Paulo.

E também eu tive essa grata oportunidade: depois de muito tempo sem ir a eventos presenciais dessa magnitude, meu marido e eu optamos por ir à Bienal no penúltimo dia.

Morando em outro estado, é claro que compramos nosso ingresso antes. E ainda bem, pois foi isso que nos permitiu poder entrar na Bienal. Antes mesmo de terminar o evento, os ingressos esgotaram. A expectativa era de 600 mil pessoas, mas antes de acabar, já tinham vendido mais de 1 milhão de ingressos.

Chegamos lá no sábado depois do almoço, já que viajamos de carro. Uma multidão de pessoas se dirigia ao pavilhão.

Já na entrada, a Bienal se mostrava caótica. Gente pra todo lado, fileiras e fileiras de separadores para que as pessoas fizessem fila para entrar.

Lá dentro, toda aquela maravilhosa agitação em torno de um objeto milenar, que há muito tempo fascina as pessoas: o livro.

Passeando pelos corredores abarrotados de gente, filas para entrar nos stands, filas para pagar pelos livros, filas para ter os livros autografados, me veio à mente a pergunta: será que brasileiro realmente não lê?

O mercado literário está animado. Visitei alguns stands, comprei alguns livros infantis – pelo menos nos stands onde consegui entrar. Porque não teria tempo hábil para ficar em todas as filas. Era o penúltimo dia da Bienal. Nem imagino como foi no domingo.

Ver que, mesmo com a publicação digital, o livro impresso permanece um objeto tão valorizado me encheu de alegria. Há muito potencial de vendas, e está crescendo cada vez mais.

Creio que, embora venham tecnologias diversas e entretenimento de todos os tipos, o livro permanece atemporal, pois armazena ideias, histórias, fonte de incentivo e soluções, que traz informação, entretenimento e, por que não dizer, relacionamento. Afinal, quem não gosta de bater papo sobre um bom livro? E quantos filmes não são originados por um bom livro?

E teria valido a pena ir à Bienal só por esse fato. Mas a ‘cerejinha do bolo‘ mesmo foi ver meus livros nas prateleiras, encontrar pessoas com as quais só falei por email – editores e funcionários – poder abraçar novamente… enfim, ponto alto do meu mês de julho. 🙂

Já estou contando os dias para o próximo evento literário! E você, vai também?

No stand da Editora Paulinas, com alguns livros ilustrados por mim.