Até logo, mãe

Essa semana perdi minha mãe… não sei nem o que dizer. Mas achei por bem escrever algumas linhas sobre ela.

(A ilustração acima, onde desenhei uma senhora com um casaquinho para homenagear minha mãe, foi feita em 2016).

Minha mãe foi uma pessoa à frente de seu tempo. Filha de poloneses, nasceu no Brasil antes da 2a guerra (1937), perdeu a mãe aos 3 anos e começou a trabalhar aos 11 anos de idade, numa fábrica de artigos de couro.

Independente desde cedo, não pôde estudar enquanto trabalhava. Mas chegando à vida adulta, decidiu trabalhar de dia e terminar os estudos à noite, no Instituto de Educação do Paraná. Gostava de poesia e de cantar, participando do coro da escola. Contava que até gravaram um disco. 🙂 Também estudou inglês e sempre estava buscando aprender coisas novas.

Se eu quisesse saber o que estava acontecendo, bastava ligar para ela, que sempre sabia das últimas notícias.

Ela sempre me inspirou, motivou e me ensinou a olhar as dificuldades pelo lado positivo. Era uma pessoa alegre, meiga, generosíssima, contente com o que tinha. Sabia rir de si mesma, e muito atualizada, surpreendendo sempre os mais jovens.

Mas como todo mundo, ela não era perfeita, não, é claro. Gostava de sua privacidade e espaço, e não curtia quem os invadia, sendo franca sobre o assunto, além de algumas manias, especialmente agora que já era mais idosa.

Em matéria de comida, não gostava muito de comida simples do dia a dia, como feijão e arroz. Eu sempre levava lasanha, estrogonofe, coxinha, empadão, brownie, etc.. para ela. Suas comidas preferidas: maionese e banana à milanesa, daquelas de churrascaria.

A equipe do hospital disse que riu muito com ela, pois era uma pessoa muito divertida e amável, mas lembram que ela tinha uma queixa: o café com leite vinha morno. Ela gostava de tudo muito quente. Um dos seus últimos pedidos no hospital, para mim, foi uma coquinha (coca cola). Depois que foi para a UTI, a equipe médica me contou que ela pediu suco de abacaxi. Porém, embora não soubéssemos, já não podia mais ser alimentada.

Ela estava em tratamento já há vários meses, íamos e vínhamos de consultas e procedimentos. Na semana passada, ia ter alta novamente e nós já estávamos nos programando para sua recuperação. Porém, uma isquemia interrompeu nossos planos, no final de semana. A equipe médica me informou que seria uma questão de horas. Não podíamos vê-la, a não ser por video-chamada.

Entretanto, forte como sempre diante das dificuldades, superou o tempo que determinaram para ela. Foi então que nos autorizaram a visitá-la. Meu irmão e eu fomos falar com ela, orar com ela, muito fraquinha no leito, respirando com dificuldade e sob efeito de medicamentos. Não sabemos se ela nos ouviu, mas acreditamos que sim, pois logo após a nossa visita, ela nos deixou. Foi uma rápida despedida. Sentirei muita falta de ouvir ela dizer: “Oi, filha querida!” …

Nunca estamos preparados, por mais que saibamos que um dia todos iremos perecer. Mas louvo a Deus pela vida dessa mulher incrível, que quis aprender a usar o computador, e o Facebook, depois dos 70 anos, depois de um câncer e um infarto. Ela foi um exemplo de superação, diante de tantas dificuldades em sua vida. Mas o maior exemplo dela, para mim, é que devemos ser gratos pelo que temos e encarar a vida com otimismo, e não esperar dos outros uma ação. Que devemos tomar as rédeas de nossas vidas em nossas mãos, confiar em Deus, e agir, pois se nós não tomarmos uma atitude por nós mesmos, os outros não o farão.

Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei. Gálatas 5:22,23

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